Bem Vindo

segunda-feira, 2 de março de 2015

Olhe para todos a seu redor

 
 Olhe para todos a seu redor 
e veja o que temos feito de nós.
Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não entendemos
porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas, coisas e coisas,
mas não temos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria 
que já não esteja catalogada.
Temos construído catedrais, 
e ficado do lado de fora,
pois as catedrais que nós mesmos construímos,
tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos,
pois isso seria o começo de uma vida
larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante
do primeiro de nós que por amor diga: 
tens medo.
Temos organizado associações e
clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar, 
mas sem usar a palavra salvação
para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor
para não termos de reconhecer
sua contextura de ódio,
de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa
morte para tornar nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte por 
não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor 
a nossa indiferença,
sabendo que nossa indiferença 
é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo
o grande medo maior e por isso nunca
falamos o que realmente importa.
Falar no que realmente importa 
é considerado uma gafe.
Não temos adorado por 
termos a sensata mesquinhez
de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingénuos para
não rirmos de nós mesmos e para que no
fim do dia possamos dizer
"pelo menos não fui tolo"
e assim não ficarmos
perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos
quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos
a vitória nossa de cada dia...

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