Bem Vindo

domingo, 2 de março de 2014

Prefiro ferver...

  Eu sou pesada demais, intensa demais, 
verdadeira demais.

Eu sou assim mesmo,

não dá para passar o que passei e ser normal.

Eu não sou normal.

E veja bem, 
isso não significa que sou boa, nem melhor.

Na verdade, sou lesada, 
danificada, costurada, remendada.

É um fato que devemos encarar.

Um dragão cospe fogo por uma única razão:

sobrevivência.

A gente sobrevive quando o mundo

não é capaz de lidar com um 
corte de fora a fora da tua alma.

Não foi um corte de susto.

Foram vários cortes, abertos e profundos.

Um atrás do outro, sem esperar eu

lamber as feridas e ter força para me recuperar.

Não houve recuperação.

Houve negação, esquecimento, fantasia,

houve uma psicose controlada.

A loucura me livrou da loucura.

E não é jargão, nem frase de efeito.

É real, portanto, não espere de mim

normalidade, passividade, estabilidade.

Eu serei um buraco negro às vezes.

Se não quiser ser sugado, saia de perto.

Se quiser me perder, me abandone.

Se quiser me entender, sinta comigo,

entre e feche a porta, me abrace.

E me ame, com tudo o que tiver.

Do mais simples carinho 
ao mais complexo entendimento.

Dê.

As pessoas que passaram 
pelas piores coisas

 são as mais difíceis de desmoronar e

mais fáceis de se manterem num castelo de aço.

Elas rezam para serem tiradas de lá,

para que possam ser leves, 
normais e humanas novamente.

Os dragões também amam, 
apesar do fogo que sai pela boca.

Apesar de serem grandes demais,

assustadores demais, densos demais.

Os dragões sabem de sua miséria 
e de sua força também.

Os dragões sempre sentem, vêem, 
sempre querem mais além.

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