Bem Vindo

sábado, 1 de março de 2014

O perigo reside na hora em que a última das máscaras cair

 
 Uma vida inteira descobrindo 
as próprias máscaras
e tentando retirar algumas 
outras são indispensáveis.

Certa vez escrevi que a cada manhã 
afivelo a máscara do dia,

um rosto cómodo que me permite conviver melhor.

O perigo é que alguma vez essa máscara

se apegue de tal jeito à minha pele

que eu não a consiga mais tirar,

ou saber qual destes rostos é o meu:

o que espreita o mundo ou o

que olha para dentro e me 
vai construindo enquanto pessoa?

Não falo de cretinice, hipocrisia,

mas talvez de auto preservação.

Ninguém deveria botar a cara na janela sem

consciência de que pode levar um tapa ou uma cusparada.

Nós que nos expomos escrevendo,

seja em jornais, revistas ou livros,

sabemos disso muito bem como atores e actrizes,

ou modelos, ou outros, que se tornam “celebridade”.

Mas no caso deles, os de palco ou holofote,

é um pouco diferente: 
seu narciso é “para fora”.

O de quem escreve em geral 
é “para dentro”:

não somos de palco, e o olhar 
pessoal pode nos intimidar.

A mim me deixa um pouco fóbica,

porém em geral as pessoas 
são simpáticas e afectuosas,

então devo aceitar com bom humor.

Que a vida é em parte um baile de máscaras

com as quais nos seduzimos uns aos outros,

e nos enganamos diante do espelho, é sabido.

O perigo reside na hora em 
que a última das máscaras cair,

e tivermos de ver, nos grandes espelhos,

um rosto preso ao nosso corpo, mas

que parece não ter nada a ver connosco.

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