e flagrei-me reflectindo sobre qual
o rosto que a desistência tem.
Quem
comanda a desistência
é o nosso coração.
Existem
momentos lúcidos em que
vagamos
no pensamento o desistir.
Desistir
de algo que nos desanima,
de
algo que nos perguntamos o porquê ainda estar,
algo
que se parece uma rua sem saída,
um
labirinto de ideias e ideais,
uma prece sem Deus.
Algo
que nos suga e não nos devolve.
E
o pensamento pesa e pensa:
é
hora de desistir.
Pois,
nesse momento, quando existe sentimento,
o
coração segura a rédea e
toma a frente dando a direcção.
Ele
manda o comando lá para cima
dominando
nossa razão e diz:
Espera,
respira, segue.
E
se isso acontece, esquece.
O
coração pensa de forma lúdica
e o pensar sente de forma líquida
não
se sustenta e transborda
se a ordem é sentir demais.
Se
a ordem é sentir que se dê mais.
Pode
acontecer o que for que o sentir amortece.
Pode
trovejar e estremecer tudo por dentro,
pode
desestruturar e balançar todos os
planos
concretos e sonhos certos.
O
coração segura,
pois ele se intitula de vitória
e
nomeia o futuro de alegrias.
E
isso nos enche de esperança,
nos
faz sorrir que nem criança
que
recebe cosquinha,
nos retroalimenta de força e vontade,
fazendo
a gente acreditar com leveza e fé.
Enquanto
o coração acredita, ele bate o pé.
E
não há quem o convença do contrário.
Mas,
se um dia for seu coração que estiver desistindo, sinto muito.
Quando
o coração desiste,
não
há pensamento que o suporte,
pois
ele carrega a verdade
mais sincera que habita uma alma.
E
tudo que era singelo se converte em um
flagelo
sem sentido, sem sentimento.
Um
coração que sente desistência no seu sentir
já
experimentou todos os caminhos,
sentiu
tantos gostos, dos
mais doces aos mais amargos,
reinventou
os gestos, voltou na trilha,
pegou atalho,se
perdeu, pediu dica,
voltou a mesmamúsica
e dançou diferente,
descompassou
para acertar o passo depois,
saiu
correndo de olhos vendados,
soube
o momento de parar para tomar ar.
Mas
quando desiste, é porque se rendeu ao
cansaço
puro e pleno,
aquele
que esvazia o peito
de possibilidades e suspiros.
E
deixa de cortesia uma dorzinha ranzinza,
como
um soco na boca do estômago.
E
respirar dói. E nada mais inspira.
E
o sonho para de respirar.
O
pensar adormece num sono profundo.
Não
sei ao certo o que acontece depois
que
um coração desiste.
Ninguém
nunca voltou para me contar.
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