Bem Vindo

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Enquanto o coração acredita, ele bate o pé.

 
 Relaxei meus pensamentos 
e flagrei-me reflectindo sobre qual 
o rosto que a desistência tem.
Quem comanda a desistência 
é o nosso coração.
Existem momentos lúcidos em que
vagamos no pensamento o desistir.
Desistir de algo que nos desanima,
de algo que nos perguntamos o porquê ainda estar,
algo que se parece uma rua sem saída,
um labirinto de ideias e ideais, 
uma prece sem Deus.
Algo que nos suga e não nos devolve.
E o pensamento pesa e pensa:
é hora de desistir.
Pois, nesse momento, quando existe sentimento,
o coração segura a rédea e 
toma a frente dando a direcção.
Ele manda o comando lá para cima
dominando nossa razão e diz:
Espera, respira, segue.
E se isso acontece, esquece.
O coração pensa de forma lúdica 
e o pensar sente de forma líquida
não se sustenta e transborda 
se a ordem é sentir demais.
Se a ordem é sentir que se dê mais.
Pode acontecer o que for que o sentir amortece.
Pode trovejar e estremecer tudo por dentro,
pode desestruturar e balançar todos os
planos concretos e sonhos certos.
O coração segura, 
pois ele se intitula de vitória
e nomeia o futuro de alegrias.
E isso nos enche de esperança,
nos faz sorrir que nem criança
que recebe cosquinha, 
nos retroalimenta de força e vontade,
fazendo a gente acreditar com leveza e fé.
Enquanto o coração acredita, ele bate o pé.
E não há quem o convença do contrário.
Mas, se um dia for seu coração que estiver desistindo, sinto muito.
Quando o coração desiste,
não há pensamento que o suporte,
pois ele carrega a verdade 
mais sincera que habita uma alma.
E tudo que era singelo se converte em um
flagelo sem sentido, sem sentimento.
Um coração que sente desistência no seu sentir
já experimentou todos os caminhos,
sentiu tantos gostos, dos 
mais doces aos mais amargos,
reinventou os gestos, voltou na trilha, 
pegou atalho,se perdeu, pediu dica, 
voltou a mesmamúsica e dançou diferente,
descompassou para acertar o passo depois,
saiu correndo de olhos vendados,
soube o momento de parar para tomar ar.
Mas quando desiste, é porque se rendeu ao
cansaço puro e pleno,
aquele que esvazia o peito 
de possibilidades e suspiros.
E deixa de cortesia uma dorzinha ranzinza,
como um soco na boca do estômago.
E respirar dói. E nada mais inspira.
E o sonho para de respirar.
O pensar adormece num sono profundo.
Não sei ao certo o que acontece depois
que um coração desiste.
Ninguém nunca voltou para me contar.

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