Não compre manual para criar
os filhos,
para aprender o gozo,
para
despistar os fantasmas.
Não existe manual que ensine
a cometer bobagens.
Não seja sério;
a seriedade
é duvidosa;
seja alegre;
a alegria é
interrogativa.
Quem ri não devolve o ar que
respira.
Use roupas com alguma
lembrança.
Use a memória das roupas
mais
do que as próprias roupas.
Desista da agenda, dos
papéis amarelos,
de qualquer informação
que não seja um bilhete de
trem.
Procure falar o que não vem
à cabeça.
Cantarolar uma música ainda
sem letra.
Seja imprudente porque,
quando se anda em linha recta,
não há histórias para
contar.
Chore nos filmes babacas,
durma nos filmes sérios.
Não espere as segundas
intenções
para chegar às primeiras.
Não diga “eu sei, eu sei”,
quando nem ouviu direito.
Almoce sozinho para sentir saudades do
que não foi servido em sua
vida.
Ligue sem motivo para o
amigo, leia o
livro sem procurar coerência,
ame sem pedir contrato,
esqueça de ser o que os outros
esperam para ser os outros
em você.
Transforme o sapato em um
barco,
ponha-o na água com a sua foto dentro.
Não arrume a casa na
segunda-feira.
Não sofra com o fim do
domingo.
Alterne a respiração com um
beijo.
Volte tarde.
Dispense o casaco para se
gripar.
Solte palavrão para
valorizar
depois cada palavra de afecto.
Cometa bobagens.
Ninguém lembra do que foi
normal.
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