num trecho ou outro da estrada,
eu já senti tanta dor que parecia que
os golpes haviam me quebrado toda por dentro.
Não sabia se era possível juntar os pedaços,
por onde começar, nem se o cansaço me permitiria
movimentos na Direcção de qualquer tentativa.
Quando o susto é grande e dói assim,
a gente precisa de algum tempo
para recuperar o fôlego outra vez.
Para voltar a caminhar sem contrair
tanto os ombros e a vida.
Um espaço para a gente quase se reinventar.
O tempo passa. O fôlego retorna.
Parece milagre, mas as sementes
de cura começam a florescer nos mesmos
jardins onde parecia que
nenhuma outra flor brotaria.
A alma é sábia: enquanto achamos
que só existe dor, ela trabalha, em silêncio,
para tecer o momento novo.
E ele chega.
Ana Jácomo
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